quinta-feira, junho 21, 2012

Furmalismo e o Parsifalismo, A VOLTA com apoio PTista? ANALISE!


“O texto seguinte foi produzido em 2008 em decorrência da CONVENÇÃO MUNICIPAL DO PT daquele ano para disputa eleitoral. Vale apena ler e refletir sobre o atual cenário político eleitoral que está se desenhando em Tucuruí.
 

valdiclei Baia

O domínio do espaço político em Tucuruí E A NECESSIDADE DE MUDANÇA.
A história política de Tucuruí, após sua emancipação do município de Baião em 1947, é marcada pela sucessão e articulação de duas Oligarquias, com um período de transição. Os arranjos de poder local se constituem em contextos históricos bem definidos, em que grupos articulados com forças políticas regionais e nacionais assumem a cena política de Tucuruí por um período de tempo determinado. A primeira Oligarquia, chamada de Oligarquia tradicional, se institui no pode local a partir da segunda fase do Baratismo, apoiada pela Oligarquia dos Castanhais de Marabá e nos funcionários da Estrada de Ferro Tocantins. Da década de 1980 a 1990 temos uma fase de transição para a segunda Oligarquia, uma Nova Oligarquia que nasce no processo de redemocratização do país, firmada em alianças com o Barbalismo e na dinâmica econômica e social instauruada pela Hidrelétrica. Essa Nova Oligarquia possui como base local a agroindústria latifundiária e a elite comerciária, dividida em dois grupos que nos últimos vinte e cinco anos se revezam a frente do governo local. Estes estabelecem um conjunto de ideologias e praticas político-eleitorais: o Furmalismo e o Parsifalismo. No entanto, os últimos anos anunciam uma tendência de desgaste desse domínio político, em que se desenham possibilidades de ruptura com essa polarização oligárquica, na qual os projetos políticos construídos a partir das bases sociais locais figuram como instrumentos políticos fundamentais para a mudança de domínio e de modelo político, do oligárquico e populista para o social-democrático e popular.

ALCOBAÇA. DA DINÂMICA DE PRODUÇÃO DE SUBSISTÊNCIA AO DOMÍNIO POLÍTICO, ECONÔMICO E SOCIAL:
Nos tempos de Alcobaça a população local desenvolvia uma produção basicamente de subsistência, extrativista, agrícola e comercial de base familiar. O modo de vida do ribeirinho, pescador e coletor de produtos da floresta estava diretamente ligado a este modo de produção. Sendo que, salvo alguns produtos manufaturados adquirido principalmente nos regatões (lanchas que vinham de Belém vendendo roupas e calçados, apetrechos para caça e pesca, utensílios domésticos e para atividades agrícolas de pequeno porte), todo o resto era fruto da labuta diária dos moradores locais.

A DISPUTA PELO PODER TEM INÍCIO COM A FORMAÇÃO DOS “BARÕES DA CASTANHA”.
Famílias inteiras se deslocaram para Tucuruí com o intuito de explorar esta iguaria da floresta muito abundante nesta região e supervalorizada no mercado europeu naqueles tempos: a castanha-do-pará. Inicia-se, assim, o ciclo da castanha, que iria perdurar até meados do Século 20, tendo seu declínio decretado pela extinção da EFT e acentuando-se com a implantação da UHT.
Os donos de castanhais, por assim dizer, eram ”os senhores do local”. Detinham tanto o poder econômico como o poder político, com fortes ligações com a capital: Belém.  Esta fase da política local pode ser compreendida como a era do “voto de cabresto”, prática comum no Norte/Nordeste brasileiro naqueles tempos. O povo, como é de se supor, ficava de fora das decisões políticas e da participação social. Não tinha vez nem voz. Quem se voltava contra esta prática excludente era excluído da sociedade local. Como exemplo, os Índios presentes na região, mas que eram caçados como animais do mato, os “brabos”, não civilizados, selvagens. Apenas por reivindicarem um pedaço de terra que sempre foi deles. E que agora se encontrava nas mãos dos senhores dos castanhais que, além de controlar a política e a economia local, também exerciam forte influência na população ribeirinha. Controlando desde o seu modo de produção e até mesmo suas vidas. Haja vista que era prática comum o trabalhador do castanhal “negociar” com o “senhor” a “pureza” das meninas.

O BARATISMO E A OLIGARQUIA TRADICIONAL.
A formação da elite política em Tucuruí ocorre ao longo da formação histórica do município. No momento em que o município se emancipa de Baião, em 1947, um grupo político já estava formado, tanto que um único partido irá dominar a cena política do município por 12 anos consecutivos. A figura do primeiro prefeito Alexandre José Francês (seu Mímico) é emblemática: havia já sido prefeito de Baião, era Fiscal da Estrada de Ferro Tocantins, representante da família Mutran de Marabá e amigo particular de Magalhães Barata, a quem conduziu em seu barco de Marabá a Tucuruí em sua visita de 1947. O estilo de governo era do Coronelismo. A partir de 1960 o apoio dos funcionários da Estrada de Ferro Tocantins foi decisivo na eleição de José Kleber Beliche (seu Lelé). Este apoio se firmará com a eleição de Raimundo Ribeiro de Souza (seu Diquinho), durando até a construção da Hidrelétrica.

O BARBALISMO E A FASE DE TRANSIÇÃO. DO PODER OLIGÁRQUICO TRADICIONAL ÀS NOVAS OLIGARQUIAS.
O término das obras de construção da Hidrelétrica define um outro arranjo político em Tucuruí no início da década de 1980, com o fim do regime militar e abertura democrática. Foi com o apoio de Jader Barbalho (que já havia assumido ministério no governo da ditadura militar) e da Eletronorte, que um migrante de outra região, Cláudio Furman chega à prefeitura em 1982. Renunciando dois anos depois para assumir como secretário da agricultura do Estado do Pará no Governo do Jader Barbalho. Seu vice, Armênio Barreirinhas assumiu, mas renuncia no ano seguinte assumindo o Presidente da Câmara, José Soares do Couto Filho (Navegantes).
Navegantes, ainda que não seja o único, introduziu duas práticas políticas que seriam adotadas pelos dois grupos oligárquicos que o sucedem: o populismo clientelista (doação de caixão, botijão de gás, sopa, medicamentos etc.) e as ditas obras de “grande envergadura” (as escadarias da rua Stº Antônio e o estádio “Navegantão”, por exemplo). Vai ser, justamente, na era Navegantes, que outra figura política emerge das sombras, o Dr. Parsifal Pontes, autodenominado “Filho da Terra”. Este utiliza o mandato de Navegantes – do qual era vice – para se projetar politicamente no município. Sendo Navegantes o primeiro de uma série de outros políticos tradicionais que estariam por vir a ser tirado do cenário político de forma arrasadora por Parsifal Pontes. Estaria, a partir daí desenhado o cenário propício à implantação deste novo projeto, desta nova dinâmica de ocupação de espaço político, implantado em todo território nacional pelo PMDB, partido que até hoje figura como protagonista nos bastidores da política nacional, estadual ou mesmo municipal. Pois, se tornou este um partido que não apresenta uma linha ideológica definida. Tanto pode estar hoje com um como amanhã pode estar com o outro grupo político, não importando que papel ideológico os mesmo representem. O que importa é estar no poder.         

FURMANLISMO E PARSIFALISMO: AS NOVAS OLIGARQUIAS LOCAIS.
A base de formação desta Oligarquia encontra-se principalmente na implantação da Hidrelétrica, em pleno regime militar, em Tucuruí. Esta estabelece as condições sociais e políticas para a afirmação destes dois grupos, representantes da pequena elite burguesa local. Os quais encontraram na concentração de propriedades e de terras (as grandes áreas de florestas destinadas ao corte da madeira, o pequeno e o grande latifúndio, produtivo e improdutivo, rural e agrário), no desenvolvimento do comércio, na divisão territorial do município (emancipação de Breu Branco e Novo Repartimento) e, principalmente, no acentuado fluxo migratório de dentro e de fora da região suas bases de apoio para o grande projeto Oligárquico de revezamento de poder.

Condições que propiciaram a consolidação do projeto político destas duas oligarquias frente ao cenário político local por mais de 25 anos:
Condições sociais: É essa especificidade da formação de Tucuruí que faz com que a oligarquia se defina em dois grupos de identificações: um com a população remanescente de Alcobaça e os ribeirinhos migrantes do baixo Tocantins e outro com a população migrante de outras regiões. Ambos, no entanto, se revezam em função de um jogo político marcado pelo papel decisivo que exercem a grande massa de migrantes sem enraizamento local.
Condições econômicas: Com a implantação da hidrelétrica, em pleno regime militar, Tucuruí vê surgir do concreto armado, da exploração do comércio e da pilhagem de suas matas a força esmagadora da pequena elite agro-comercial. Caracterizada, principalmente, pela exploração agroindustrial (latifúndios pecuaristas e indústrias extrativistas de madeira) e pela exploração do comércio bens de consumo duráveis e não-duráveis – levando em consideração que a praça comercial mais próxima era Belém. Temos, dois grupos políticos, representando a partir dos anos 1980 duas facções políticas de interesses bem comuns, mas, ao mesmo tempo distintas em termos de projeto político. Estas duas facções representantes dos interesses da elite burguesa passaram a se revezar e a se “rivalizar” no poder até os dias atuais. São as oligarquias já mencionadas acima, mas que vale a pena lembrar: Parsifalismo e Furmalismo.
Condições políticas: As condições políticas que levaram estes dois grupos oligárquicos a se instalarem no poder a nível local devem-se, em grande parte, ao já citado Barbalismo no estado do Pará e a sua ascensão ao poder em pleno regime militar onde assumiu status de ministro e ao Governo do Estado do Pará. Com a queda do regime militar, o declínio do domínio das oligarquias tradicionais, a crescente luta pela redemocratização do território nacional (Diretas Já) firma-se como “grande” figura política o populista Jader Barbalho. Estas condições políticas favoráveis à implantação de seus projetos políticos em nossa região acentuo-se ainda mais com o advento da divisão territorial de Tucuruí em dois novos municípios vizinhos ( Breu Branco e Novo Repartimento).

Características comuns entre as duas oligarquias:
Esses dois grupos, apesar do teatro que montaram para enganar o povo com uma falsa rivalidade, têm características bem comuns, como, por exemplo, o populismo exagerado – herança do mentor político de ambos: Jader Barbalho – a utilização da máquina propagandista de forma excessiva, a política de distribuição de cargos entre os membros da elite, a falta de respeito com os trabalhadores públicos e seus sindicatos, a inoperância da máquina pública devido ao endividamento e, por último o estranhíssimo fato de que nenhum dos dois grupos conquistou dois mandatos consecutivos – isso deixa transparecer algo premeditado com relação ao revezamento de poder.            

O enfraquecimento, a necessidade de mudança e a superação do atual modelo político. Do oligárquico, centralizador e populista para o socialista, democrático e popular:
Depois de 25 anos de domínio político e, consequentemente, sócio-econômico das oligarquias, é perceptível o anseio por mudanças. Algumas frações da elite que apóiam este projeto cansaram deste modelo. A prática do revezamento eleitoral não consegue apresentar mais nenhuma novidade. Suas bases de apoio, tanto a nível local quanto a nível regional, encontram-se enfraquecidas ou comprometidas demais. O povo, cansado das mesmas figuras políticas emblemáticas, mostra-se descrente. Ou seja, a insatisfação é generalizada. E estas oligarquias, já não conseguem ter os mesmos desprendimentos que tinham no passado. Ainda assim, são insubestimáveis.
O modelo político dominante em Tucuruí é definido pela correlação de forças entre os dois grupos oligárquicos desde o processo eleitoral até a administração pública municipal: O governo do município. O modelo político das oligarquias é baseado em práticas políticas e administrativas sem transparência, sem responsabilidade social e, principalmente, sem participação popular na tomada das decisões relevantes. As políticas de direitos sociais são secundarizadas e, às vezes, suprimidas por políticas de privilégios.
O grande desafio para os partidos que não se alinham a estas duas correntes políticas – que representam o modelo elitista de governar – é conseguir se colocar como uma força alternativa, de ruptura e superação destes modelos estabelecidos de cima para baixo. É firmar-se como um meio, um instrumento, um sujeito da mudança política. A possibilidade de superação tem como base a construção de um projeto político que parta das bases sociais desta cidade. Para isso, se faz necessário que tenhamos em mente uma estratégia de contraposição a estes dois grupos dominantes. Não podemos cair na mesmice de estarmos criando um outro governo baseado em um projeto oligárquico. Por isso, se faz necessário construir este novo modelo de governo como forma de superar o modelo atual, estabelecendo um governo socialista, democrático e com os pés firmados nas bases sociais. Um modelo popular de governo.
Um modelo popular de governo precisa ser desenhado em suas linhas básicas e gerais através da construção de um programa de governo com base num Projeto Político para Tucuruí – As ações programáticas, orientadas por um programa, demonstram ser mais eficazes. Assim, a construção de um Programa de Governo que não seja mera peça publicitária para campanha eleitoral, depende da organização da unidade partidária e da capacidade do partido de articulação, integração e inserção política e social em Tucuruí. Assim, a ênfase ao Programa de Governo, não é apenas em razão de sua instrumentalidade eleitoral, mas das possibilidades de fortalecimento das bases populares. Cabendo aos partidos que bradam as vozes da mudança, nesse momento, de ser um aglutinador de idéias, interesses, aspirações, projetos e lutas sociais e populares, materializando isso tudo em um Programa de Governo do Município que combata e supere práticas administrativas que inviabilizam a promoção do desenvolvimento de políticas públicas necessárias à melhoria da qualidade de vida da grande maioria da população.





Valdiclei Baia

2 comentários:

Anônimo disse...

“Eu, enquanto petista que sou, desde sempre fui contrário a qualquer aliança com estes dois grupos políticos (farsifalistas e furmanlistas) por que já estiveram tempo demais no poder e já conhecem as “manhas do seu jogo sujo”... portanto, concluo que qualquer aliança desta natureza pode até levar ao poder, mas vai ser um poder que já vém pervertido! Como num jogo de cartas marcadas!

Anônimo disse...

Desde o momento em que me falaram que o Claudio Furman estava no PMDB que eu tentei avisar a companheirada para não se iludirem, por que ele (o Claudio) não iria para lá a toa. Desde o começo eles enganaram apenas os trouxas e os que se deixaram enganar por conta de certas vantagens futuras que os mesmos possam vir a ter (que, também, acredito ser outra ilusão) numa possível vitória deste “pacto da mediocridade”, como diria o companheiro Joilson!